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3 de jul. de 2010

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Manuel passava o dia todo atrás do balcão. Sorrindo pra gente com a qual ele não simpatizava. Obedecendo ordens de pessoas odiáveis.
As pernas começavam a doer perto do meio-dia, mas a postura deveria ser mantida. Nada de cabeça baixa ou de braços apoiados. Ele precisava comer, a mulher precisava comer, as crianças precisavam comer...

Em casa, uma lâmpada queimada era suficiente para uma discussão calorosa que poderia terminar em louça quebrada ou em sexo. Nunca saiu da cidade. Concordava com as notícias que via na TV. Acordava cedo e dormia tarde.

Naquela manhã, Manuel havia sentido pela primeira vez o cheiro de uma nota de cem reais. Ela era estranhamente azulada (ou aquilo seria verde?). Tinha uma textura diferente das notas amassadas que trocava por cervejas vagabundas. Um peixe que ele nunca comeu estampava aquele lindo pedaço de papel.

Por um instante, acariciou letra por letra. Admirou a assinatura firme que arrematava a obra de arte. "Deve ser alguém importante" – pensou.
Ah! Que momento sublime. Sempre havia recebido seu ordenado pontualmente em pequenos montes com quase todas as notas, menos aquela. Cem reais!
Em um só papel jazia ao menos uma semana de trabalho suado.

Como um despertador mal-humorado, a fisgada no joelho esquerdo lembrou-lhe que já passava das três da tarde e, então, viu novamente o balcão e o próprio uniforme surrado.

– Desculpe-me senhora, mas não temos troco.

E devolveu a nota de cem. Recebeu outra de dez, daquelas tradicionais.

Assim que a madame deu-lhe as costas, a dor espalhou-se para as duas pernas. Aproveitou que estava sozinho e encostou-se no balcão. Sentindo-se velho.

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