“É hora de dar um basta na rotina e enriquecer seu dia-a-dia com atividades prazerosas. Caso pintem pepinos nas finanças, nada de pânico. Você terá criatividade para virar a situação a seu favor. O que vai lhe fazer bem: abastecer sua Dvdteca com comédias”.
Oras! O dia prometia muito mais do que o horóscopo poderia dizer! O ano novo tinha acabado de começar e a primeira promessa que eu tinha feito era: voltar a ser jovem!
Já fazia mais de um ano que eu não usava minhas camisetas coloridas, não amarrava minha bandana no pulso e nem saía de casa despenteado. Tudo estava mecânico e previsível: botão de camisa, meias pretas, gel no cabelo. E eu tinha 30 anos, mesmo tendo nascido em 1987.
Voltando à promessa de começo-de-ano (não preciso repetir minha paixão por hífens inexistentes, preciso?), cheguei do interior com uma mala na mão, uma idéia na cabeça e um perfume novo. Empurrei a porta do meu departamento e nem liguei o computador. É hoje! Entrei na sala do meu chefe com a cara mais amigável que as novelas das oito poderiam ter me ensinado e sorri um sorriso amarelo de quem tinha acabado de tomar café e disse com todas as letras: QUERO IR EMBORA DAQUI.
Recebi a promessa de que iria. Um dia. Um dia eu iria embora de lá. E fui. Vinte e um dias depois daquele dia. Quantos dias!
Abracei quem tinha de abraçar e quando tive em minhas mãos a carta de demissão, desci para a lanchonete que ficava na esquina da Ipiranga e disse para todos os atendentes: ESTOU INDO EMBORA DAQUI. Pedi um Carlton Red e traguei profundamente. Eu tinha 20 anos mais uma vez.
Nesse momento, uma chuva densa caiu do céu. Deus queria lavar meu passado ou apagar meu cigarro. Conseguiu as duas coisas.
Nunca mais coloquei meus pés naquele lugar.
A partir de então, comecei a preocupar-me com o tênis que eu usaria na manhã seguinte, com as moedas pra comprar o ticket do bandejão e com quem dormir sábado à noite. Somente isso.
E antes que eu esqueça: minha Dvdteca continua a mesma.
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